25.10.13 - "...inútil dormir. A dor não passa..."



Filho,

Ainda ta tudo igual. Todos tristes, casa vazia, silencio. Ontem você ganhou mais um presentinho. Alguém, no banco onde o papai trabalha ta com a cabeça nas nuvens e mandou, 3 meses depois de você ter nos deixado. Guardei na sua caixa. Como eu guardo tudo o que é seu. Quando a saudade aperta um pouco mais, vou la e fico olhando. Contemplando cada coisa sua, como se isso pudesse te fazer um pouco presente e diminuir a angustia que sentimos.

Tenho revisado constantemente minha relação com Deus. Você não sabe como é ter irmãos, mas eu sei. A gente pode esculachar que daqui a pouco eles se perdoam. Mas se vem alguém de fora dizer um tantinho assim de um deles, a gente cai matando em cima. Sinto Jesus assim. Como um dos meus irmaos. E Jesus é Deus. Então também me sinto irmã de Deus. Fiquei triste com Deus um tempo porque me senti abandonada por Ele. Não tenho vergonha de falar isso, pois o próprio Deus, na pessoa de Jesus também se sentiu abandonado. Então ele há de entender como ninguém os meus sentimentos. Acredito também que, apesar de eu as vezes achar que não, Ele deva gostar muito de mim. Porque ele é meu irmão. E se ele gosta de mim, como eu gosto dos meus irmãos, ta tudo certo.

O amor que Deus me deu, me fez amar você. Mais do que a mim mesma. Do jeito que ele deu a vida dEle para me salvar, eu daria a minha vida para salvar a sua. Mas eu não sou Deus e a minha vida não me pertence. E Ele achou que não era a minha hora. Ele deve ter uma razão para me querer viva. Só que, mesmo viva, minha vida acabou quando você foi embora e levou alegria, o sonho e os nossos planos.

E eu ainda não sei o porquê.

Talvez seja isso que tanto me incomoda. Além da sua ausência.

Uma coisa é curiosa, meu amor: A morte é certa para todos. Mas ninguém sabe lidar com ela.

Quando a morte chega, não se sabe o que dizer e se magoa, quase sempre sem querer. E quando a morte chega a uma criança linda e saudável como você, aí é que que ninguém sabe meeesmo. Não estamos preparados para isso. Estamos preparados para enterrar nossos pais, talvez irmãos e alguns amigos. Mas um filho. Ninguém está.

Ainda lembro, eu deveria ter uns 4 anos, reclamei à irmã no colégio que tava sentindo dor de cabeça. Provavelmente por causa da visão. Daí ela disse que dor de cabeça era doença de adulto. Que os adultos morriam de dor de cabeça. E assim entendi que doença e morte eram coisas de adulto. Não de crianças.

Ninguém compreende que não é outro filho que me fará feliz. Seria mais fácil se entendessem que o amor é um substantivo que é abstrato e concreto ao mesmo tempo. Que eu te amo no presente, passado e futuro. Porque o amor é atemporal.


Aconteça o que acontecer daqui pra frente, nada será maior e nem mais lindo que você. Eu te amo tão profundamente, que nunca nada e nem ninguém, vai ser digno de tanto amor.


E quanto às bobagens que ouço... Ainda que eu sofra, elas só me fazem te amar ainda mais.

Com amor,

Mamãe.

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