25.09.2013



Meu filho,
hoje faz 2 meses que não nos vemos. Sinto saudades. Disseram pra mim que, com o passar do tempo, a dor diminui e a tristeza se afasta. Eu vejo o tempo passar, a Dor, continua com 2,10, de altura e a tristeza não sai do meu lado. Caminham comigo diariamente. Vão comigo ao trabalho, ao mercado, à nossa casa e deitam na minha cama e dormem comigo. No outro dia ela levantam e fazem tudo de novo. Elas não fazem a menor questão de serem inconvenientes. Não querem ao menos permitir que eu as suporte. Eu tento espantá-las, chamando por Deus. Mas acho que ele deve está muito ocupado agora, pois tem muita gente neste mundo que também sofre. Eu sei disso porque sempre que alguém me vê triste, vem me contar uma história de alguém que, supostamente, tenha sofrido mais que eu. Eu digo supostamente pois eu não sei da dor que cada um traz em seu coração. Eu sei da minha. E como sei.
E quando a dor não vai embora, e quando a alegria não vem e quando a saudade não passa. E quando as lágrimas, escorrem e esquentam o rosto. As vezes sou condenada por isso. As pessoas me julgam. As pessoas dizem que não tenho o direito de chorar, de sofrer. Dizem que tenho que sair dessa, como se eu estivesse assim porque quero. Eu tenho me esforçado, filho. Eu juro. Eu tento trabalhar, me ocupar, fazer caminhadas, ver filmes alegres, ouvir músicas bonitas... O problema é que todas as músicas bonitas se parecem com você, que é tão bonito! E quando você tem medo de procurar alguém que possa lhe dar um alento e decepcionar com essas pessoas, o já aconteceu algumas vezes. E a decepção, filho é uma coisa muio feia. É quando você deixa de confiar e admirar alguém que você acreditava que gostava e se importava com você? Geralmente isso acontece com pessoas muito próximas. As vezes alguns tem o mesmo sangue que você, a mamãe ou o papai. Eu já entreguei os pontos. Já desisti destas. Não vale a pena ocupar meu coração tendo raiva delas, quando na verdade o que eu quero é estar com meu coração cheio de amor, para você e para o papai. Acho que é por isso que se chama decepção. Porque se fosse com pessoas que não ligam a mínima para você, você já saberia o que esperar.
Mas as pessoas não entendem, meu amor. As pessoas dizem pra gente esquecer. Deixar pra lá? Como esquecer um filho? Um filho que não é qualquer um. Um filho como você. Único, especial, desejado, planejado, querido, esperado, amado... Não dá para simplesmente deixar pra lá. Falam que teremos outros filhos (sim, eu ainda ouço isso, acredita?). Esses anencéfalos ainda não entenderam que eu queria mesmo era você aqui. Falam também que foi melhor você ter partido agora do que quando fosse mais velhinho. Ou então, antes de descobrir que você pudesse vir a ter alguma doença. Acontece que o melhor, melhor mesmo, é ter você aqui. Vivo. Filho morto não é 'melhor' em idade nenhuma. O amor é infinito. E o de uma mãe, vai além de tudo, do tempo, do lugar, das circunstâncias, de uma doença, ou defeito. Imagina quando se trata de um filho perfeito.
Há pouco desarrumei seu quarto. Guardei todas as suas coisas. É tão triste. Tirei algumas fotos, enquanto desmontava. Agora nem tá mais assim. Guardei suas roupinhas, seus sapatos, brinquedos, moveis, fotos, decoração. Tudo. Eu só deixei a cortina pra tapar o sol e os móveis cobertos. Também não quis tirar o papel de parede. Ela ia ficar feia. Então eu deixei.
Ver o amor numa gaveta de sapatos ou ainda num cheirinho de fralda que sai dos armários é o que me sustenta.
O amor que sinto por você é tão grande, mas tão grande que não cabe naquele quarto. Não cabe na casa inteira, acho que nem no mundo. Talvez por isso você esteja no céu. Sendo lá um espaço infinito, talvez seja um dos únicos lugares em que você cabe. O outro é dentro do meu coração.
Com amor,
Mamãe.






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