"...a Saudade é arrumar o quarto..."

Estamos concluindo a arrumação no quarto da nossa filha. 
Arrumação esta que demorou vários meses por falta de estrutura emocional para entrar,  estudar, projetar e executar. 
Poderíamos ter escolhido outro quarto da casa. Teria sido mais fácil: entrar num quarto todo branco,  vazio, como desenhar numa folha em branco: Você pode fazer o que quiser com ela.
Mas, não.  Escolhemos o quarto azul. O que tem uma história.  Não por querermos nos desfazer dele. Mas por acharmos que a história dos irmãos Samuel e Sarah é a mesma história.  (Este não é um comentário espiritual). Recebemos a notícia de ambas as chegadas com a maior alegria de toda a nossa vida.
Até então não sabíamos o que era felicidade no pleno sentido da palavra. 
Cada semana era e é comemorada como uma vitória. 
Então por isso,  por acharmos que Samuel e Sarah fazem parte de uma mesma história,  resolvemos prosseguir com a reforma.
Nos primeiros dias, mal conseguíamos entrar no quarto,  tamanha a tristeza que nos cercava.  Se por um lado não queríamos desfazer o mundo que fizemos para receber nosso filho,  por outro lado, tínhamos uma necessidade de superação dos nossos próprios sentimentos,  ao passar em frente ao quarto. 
Começamos guardando suas coisas cuidadosamente.  Depois passamos a estudar uma nova posição dos móveis e as cores que iriam ter.
Arrancar o papel de parede antigo era como arrancar a casca de ferida. Doía.  Mas precisava ser feito,  para que uma nova pele se fixasse ali. 
A limpeza geral,  depois de mais de um ano fechado, era como lavar o rosto nas lágrimas que insistem em correr.
Aos poucos o azul foi dando lugar ao amarelo, ao bege e ao ouro.
Durante a mudança passava e ainda passa um sentimento: e se acontecer tudo de novo? 
Tentamos esquecer isso rapidamente e voltar ao que interessa.
O quarto da Sarah,  que já foi do Samuel,  está se vestindo. Está quase pronto. E já não sentimos mais tanta dor ao adentrarmos.
Fazemos assim um exercício de lembrar do nosso amor, Samuel, como uma doce lembrança, uma saudade, não como uma dor ou uma tristeza. Nosso filho era a nossa alegria e deve continuar presente em nossa memória como uma alegria que tivemos, muito embora a saudade, nos leve a vontade de sorrir.
Por isso a mudança no quarto.
Contudo, ele ainda conserva algumas coisas originais "de propósito". Temos fé que nossa filha irá usufruí-lo com saúde e alegria.  E, tomará conhecimento do antigo proprietário, quando reparar em tais detalhes.  Queremos que ela saiba que seja na terra,  ou no céu,  ela nunca estará sozinha.   Assim como nós,  os seus pais,  também não estamos. 
Ainda não terminamos.  Nem a arrumação do quarto, nem a nossa história, nem a história do Samuel e nem a da Sarah. Todas estas histórias estão sendo contadas.  Com todas as suas nuances: alegrias,  tristezas,  saudade,  e amor. 
Muito amor.

Amanhã ele completa 1 ano e 7 meses de vida celestial.

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